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Ressurreição ideológica e arte em tempos de recondução

O renascimento está presente na arte e em nós mesmos, mas pode estar aparecer em contextos diversos. 

O renascimento está presente na arte e em nós mesmos, mas pode ser relacionado a contextos diversos. 

Ao questionar alguém sobre a crença em ressurreição pode parecer que estoamos querendo ter uma conversa exclusivamente sobre religião e fé, em geral. O renascimento, entretanto, não precisa estar ligado apenas à morte do corpo ou da mente. 

O renomado psicanalista Robert D. Stolorow defende a ideia de que traumas irreversíveis são uma forma de morte. Consequentemente, podemos adquirir uma espécie de Ressurreição Ideológica após determinados acontecimentos. 

E os contextos das ressurreições ideológicas podem ser individuais ou coletivos. 

Em um de seus artigos, Stolorow exemplifica esse tipo de ressurreição através do maior trauma sofrido pela sociedade norte-americana: os atentados de 11 de setembro de 2001.  

O ataque às Torres Gêmeas um devastador trauma coletivo que mudou completamente os Estados Unidos, pois deixou a população mais temerosa, pois matou a sensação de que o país era invencível e tinha um sistema de segurança completamente sólido.

Era preciso criar esse sentimento novamente.

Por conta disso, o governo da época declarou literalmente uma guerra contra o terrorismo, estimulando ainda mais o patriotismo existente nos norte-americanos. Após a consolidação de ataques severos a outras nações, consideradas inimigas e terroristas, a população dos EUA voltou a se sentir confiante, escondendo novamente a vulnerabilidade e os medos expostos após o 11 de setembro. 

Essa atitude bélica, os reforços internos de segurança e o sentimento vingativo permitiram que a ressurreição ideológica dos norte-americanos acontecesse.

Não por acaso, conceitos de ressurreição e patriotismo passaram a ser recorrentes em produções culturais do país, que precisava se reafirmar como a nação mais poderosa e segura do mundo. 

Por falar em cultura, a ressurreição sempre fez parte de obras consagradas, tanto literalmente quanto ideologicamente. E nós gostamos muito disso, mesmo que de forma inconsciente. 

Traços de Ressurreição

A Ressurreição ideológica pode ser utilizada em campanhas políticas, atos de guerra e também como recurso narrativo nos mais diversos produtos culturais. Em geral, a arte sempre abordou os conceitos de ressurreição de forma literal, especialmente por influências religiosas que ditaram os rumos dos artistas por séculos.

Uma das primeiras e mais famosas pinturas do italiano Rafael, por exemplo, leva o nome Ressurreição de Cristo, pois representa o momento em que Jesus renasce em cima de um sarcófago e é observado com olhares assustados. A obra foi criada entre 1499 e 1502, e demonstra o quanto os conceitos religiosos eram relevantes para a criação de pinturas, especialmente aquelas com mensagens de ressurreição. 

Mas e a ressurreição ideológica, também estava presente nas pinturas?

Sim! Para exemplificar, temos a obras mais icônica de Eugène Delacroix: A Liberdade Guiando o Povo

A Liberdade Guiando o Povo – Delacroix

Atualmente exposto no Museu do Louvre, o quadro representa um renascimento da população francesa após a revolução que derrubou o Rei Carlos X. Em um cenário de guerra, repleto de corpos e armas, a liberdade surge com a bandeira francesa para guiar o povo francês rumo aos novos tempos. Um Renascimento ideológico (e nesse caso social) de uma nação exposto através de traços belíssimos e conhecidos mundialmente. 

Não por acaso, a pintura se tornou sinônimo de liberdade (naturalmente) e direito à vida. Tanto que virou até capa de álbum. Lembra do Viva la Vida, da banda Coldplay?

Capa do álbum Viva la Vida

A partir disso, podemos questionar: existe algo mais libertador e vivo para a alma do que a ressurreição.

A resposta vai de cada um, mas normalmente ela vem através de um sim. Pelo menos no cinema.

Será que morreu mesmo?

Os contos de fada medievais já trabalhavam a ideia de ressurreição com uma certa frequência. Mas isso ainda acontece nos grandes produtos culturais da atualidade.

Quantas vezes em um filme você viu um personagem ressurgindo após a morte, por exemplo? 

Se analisarmos do ponto de vista literal, acontece com uma certa frequência, especialmente em fantasias. A maior bilheteria da história do cinema, por exemplo, pertence a uma história que fez sucesso muito pela capacidade do público de acreditar na ressurreição. 

No fim de Vingadores: Guerra Infinita, nossos heróis favoritos morreram em um estalar de dedos. Saímos do cinema tristes e impactados, correto?

Sim, porém com a expectativa da ressurreição. Durante um ano a internet discutiu diversas teorias sobre como Homem-Aranha, Pantera Negra e outros protagonistas voltariam à vida na sequência, pois era óbvio que isso aconteceria. 

Por conta disso, o hype de Vingadores: Ultimato foi gigantesco, chegando ao topo das bilheterias mundiais. E os heróis, claro, ressuscitaram!

Alguns de nossos heróis favoritos sumiram no fim de Vingadores: Guerra Infinita.

Outra saga fantasiosa que trabalha bem a ideia da ressurreição no cinema é Harry Potter. No último filme da franquia, Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2, o protagonista precisa se sacrificar para matar a parte de Voldemort existente nele e, consequentemente, tornar o vilão mortal. 

Harry morre e encontra Dumbledore em uma espécie de realidade alternativa da mente. Por lá, descobre que vai poder ressurgir. Caso queira.

Tudo isso porque ele tem a pedra da ressurreição (e as outras duas relíquias da morte). Ou seja, é uma ressurreição extremamente literal, mas igualmente bem desenvolvida, na qual o personagem abriu mão da própria vida para um bem maior, mas acabou obtendo uma recompensa: a ressurreição. 

Harry Potter escolheu a ressurreição no fim do último livro/filme.

Entretanto, a ressurreição ideológica é muito mais presente em filmes e séries. 

Levando em consideração o conceito de que todo trauma irreversível é uma forma de morte, diversos personagens renasceram ideologicamente após passarem por tais experiências.

A Ressurreição funciona como uma espécie de redenção para muitos protagonistas, e para isso não precisam morrer literalmente, mas devem perder algo extremamente importante e necessário para que esse renascimento aconteça. 

É o que acontece em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Na Natureza Selvagem, La La Land, Moonlight, O Rei Leão, Up: Altas Aventuras e vários outros filmes que possuem uma intensa jornada dos protagonistas em busca do autoconhecimento e de possíveis retomadas para suas vidas. 

Mas nem sempre a ressurreição surge como redenção. 

Em Breaking Bad, série consagrada da última década, Walter White descobre um problema grave de saúde e perde a perspectiva de vida, fazendo com que tome atitudes desprezíveis, mas que representam muito a essência de quem ele era antes da vida ordinária que levou nos últimos anos. Uma ressurreição que trouxe de volta elementos distantes de uma redenção (por mais que ele tente se redimir por algumas atitudes em determinados momentos da série), mas contribuiu para um processo de recondução do protagonista às ambições que escondeu por muito tempo.

Walter White adquiriu o poder e a fama que sempre desejou.

Imagens de Recondução

Músicas, obras literárias e outras produções artísticas além de pinturas e filmes também mostram o quanto a ressurreição está presente nos pensamentos humanos e como pode ser encarada de uma maneira espiritual ou ideológica, dependendo do referente e das circunstâncias. 

O processo de recondução a algo ou alguém, no entanto, está presente em todas as variações, tanto na ficção quanto na realidade. No momento pós-pandemia, por exemplo, seremos reconduzidos a novos contextos e novas relações, tanto de trabalho quanto pessoais. 

Essa recondução será benéfica? 

Isso só o tempo e nossas atitudes vão dizer. Não podemos tratar tragédias como oportunidades, mas precisamos refletir sobre futuro e ressurreição para evitar que certas catástrofes se repitam e para que o nosso caminho de recondução tenha um saldo positivo. 

Porém, quais imagens vão nos reconduzir nesse momento? A resposta precisa ser individualizada, mas o caminho até ela pode ter contribuições. 

Na série “Tempos de Quarentena”, por exemplo, Gandhy Piorski reforçou a ideia de que ressurreição e liberdade precisam fazer parte das vidas de crianças e adultos, especialmente em momentos difíceis e tentou responder à questão acima. Veja o vídeo abaixo e reflita sobre o seu processo de ressurreição para os tempos atuais.

Ainda não sabe qual é a importância de imaginar cenários futuros? Então confira nosso artigo sobre Imaginário e Futuro e comece esse processo de reflexão, pois a ressurreição ideológica da sua alma pode estar cada vez mais próxima.

Aproveite e leia nosso eBook Histórias de Ressurreição, que conta com três contos de fada com essa temática e interpretações exclusivas de Gandhy Piorski.

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